27 abril 2011

Travessuras da Menina Má - Mario Vargas Llosa (2006)

Quando leio pela primeira vez um livro de um determinado escritor sinto muitas vezes dificuldade em apanhar o ritmo certo, entranhar-me no mood da escrita, descobrir o tom apropriado. Sempre que pego num Nobel que não conheço, temo isso. Pois bem, medos à parte, a sensação que tive ao ler pela primeira vez Mario Vargas Llosa foi de uma familiaridade injustificável. Entrosei-me bem no género de escrita, pode-se dizer. Foi fácil de entrar no compasso, mas com isto não pretendo dizer que é uma escrita simples. De uma beleza suave e natural, com uma poesia e musicalidade que associo aos escritores sul-americanos.
É magistral como Llosa nos vai contando a História do Mundo, em particular de acontecimentos relevantes ocorridos ao longo do século XX em Lima, Paris, Londres e Madrid, sobrando ainda espaço para nos apresentar Tóquio no meio das aventuras e desventuras amorosas de Ricardo Somocursio e da sua Menina Má que no final acaba por ser nossa também.
Se no último post disse que não fazia questão de ler mais livros do Luís Miguel Rocha, quanto a Llosa estou com vontade de comprar tudo o que encontrar e devorá-los, tal como em tempos fiz com o Gabriel García Marquez. Sabendo que a 81º edição da Feira do Livro de Lisboa começa amanhã vai ser uma autêntica tentação e temo que traga para casa mais um ou dois livros desta colecção.

O que podemos ler sobre esta obra no site:

18 abril 2011

A Mentira Sagrada - Luís Miguel Rocha (2011)

Uma curiosidade primária fez-me comprar este livro e foi com algum desdém que o trouxe para casa - "Quem é este escritor português do qual nunca ouvi falar e é o primeiro no top do New York Times?". Muito desconfiada lá o comecei a ler, estando à espera de mais um discípulo do Dan Brown que ia bater na mesma tecla.
Quanto à técnica de escrita, não me enganei. Mantém os mesmos truques que Brown para nos agarrar que nem lapas ao enredo. Sem Jack Langdon, e com uma percentagem maior de contextualização histórica e menos floreados, gostei mas não faço questão de comprar mais um livro do moço já que pelos títulos as suas outras obras não fogem muito ao tema e o que é demais também enjoa. É inevitável que nos lembremos de Anjos e Demónios o que me fez lembrar que ainda não vi o filme (vivo no impasse entre o facto de não ter gostado da versão cinematográfica do Código e a opinião quase generalizada que o 2º é melhor e não se compara). Recordo também com algum pesar que ainda não li nenhum livro do José Rodrigues dos Santos, ao contrário de várias pessoas que me rodeiam, o que tem vindo a ser uma falha enorme no meu reportório.
Esta escolha foi óptima para ganhar um ritmo de leitura nestas "férias" que estão a saber que nem ginjas e tendo em conta que se despacha facilmente em 4 dias, é uma opção válida, e muito apropriada tendo em conta o tema (referiro-me à Páscoa e não à revolução de 2ª), para o fim-de-semana prolongado que se avizinha.

"A carruagem ia cheia de pessoas. Executivos a ultimar gráficos e tabelas para usar numa qualquer reunião importante, como as eram todas, muçulmanos que falavam ao telefone como se fossem os donos do mundo, turistas, casais, solitários à descoberta, mulheres bonitas, homens lindos, uns que liam livros eruditos de um qualquer filósofo francês com um título deslumbrante ou monótono, outros que liam o bestseller do momento que falava de mentiras sagradas e segredos do Vaticano, Sumos Pontífices e escolhidos de Deus, crimes por resolver e ditongos de histórias mal contadas. "(p. 175)