19 maio 2008

Lavagante - José Cardoso Pires


"Sei, como todos nós sabemos, como pesa o tempo vencido sobre alguém que se aventura a descrevê-lo. É um eco a esfumar as palavras, uma ironia que nos contempla de longe, um pudor."

Um livro perfeito para se ler quando ficamos sem companhia para uma boa conversa e assim, há falta de melhor, fazemo-nos convidados ao serão de 2 amigos, que desabafam sobre desamores, numa agradável noite de verão, sentados debaixo de um alpendre.
Lê-se numa noite só. Não arrebata mas aconchega.
Tal como no "Não só mas também" do Abelaira, pensei muitas vezes no caso de o autor ainda ser vivo - será que as suas decisões finais quanto ao emprego deste ou daquele nome/verbo/adjectivo seriam as mesmas da pessoa encarregue destas edições póstumas ao falecimento do autor? Por um lado penso que estas edições roubam vernaculidade à obra inacabada, que ao receber estes retoques de mãos estranhas, perde um certo encanto virginal, por outro gosto simplesmente de as ler, mas sempre com medo de me desiludir. Os pormenores, os pormenores... os pormenores são muito importantes! Como seria bom conseguir ler um livro sem me desperdiçar a pensar nestas coisas...

2 comentários:

Hélio disse...

Sabes tão bem como eu que, a partir do momento em que um artista (independentemente da área) assina por uma editora/galeria/whatever, haverão sempre edições póstumas de obras inéditas. Se isso retira a vernacularidade da obra, não sei, pelo menos tira aquele espírito "requiem aeterna Dominum"... E casos há que nem sequer é preciso editoras. Veja-se o caso de J.S. Bach, do qual descobriram este mês, numa colecção privada, uma partitura essencial para a compreensão de uma boa parte da sua obra... E ainda há pessoas que acreditam que a 10ª de Beethoven ainda anda por aí escondida... Há sempre coisas no fundo do baú... :)

Beijinhos

Zaracotrim disse...

:)
Tens de me ensinar latim :D
Belo comentário!
Beijos

T