21 janeiro 2007

Cemitério de Pianos - José Luís Peixoto

Clap clap clap! Muitos parabéns ao autor por ter criado esta pérola. Há muito que não lia um livro que me desse tanto prazer em virar cada uma das suas páginas para tentar perceber todas as questões que ficam no ar com o decorrer da narrativa. Durante os primeiros capítulos cheguei a pensar que o livro seria um género de "Cem anos de Solidão" onde ficamos a conhecer ao pormenor três gerações de uma mesma família, e apesar de existir alguma verdade nisto, o busílis deste livro transcende, em muito, o género citado.
Enquanto estava para aqui a tentar escrever algo de jeito sobre esta obra, lembrei-me que por vezes é possível comparar um livro a uma figura geométrica: há histórias que decorrem em fórmula circular, outras são baseadas em triângulos amorosos, mas, a meu ver, esta história assemelha-se ao algarismo oito – ou ao símbolo do infinito - como preferirem (depende se são mais para o vertical ou horizontal) talvez provocado pelo travo presente a David Linch , que me agradou, e pelo jogo narrativo declarado que me entreteve bastante e fez-me lembrar o saudoso “Bolor” do Augusto Abelaira.
As personagens do enredo são complexas e cada uma interessante a seu modo, especialmente a personagem Simão que, como já era de se esperar, é a cereja no topo do bolo.
Por último, devo dizer que concordo plenamente com o Vasco Graça Moura quando diz:

"Creio estarmos perante um grande ficcionista e, também, um grande prosador da língua portuguesa, capaz de extraordinárias notações do real, de ritmos inovadores e até de uma relação estrutural com as formas musicais que não tem precedentes entre nós."

De facto, esta narrativa assemelha-se a uma vasta obra musical, onde se reconhecem andamentos distintos e ritmos opostos alternados, onde identificamos musicalidades diferentes e tipos diversos de linguagem.
Fiquei fã! Leiam.