26 janeiro 2011

Ao cair da noite - Michael Cunningham (2010)

It's alive!! Depois de mais de 4 meses sem dar notícias cá reapareço para falar de mais um livrito que acabei de ler. What a shame!
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Julgo que Cunningham gosta sempre de estabelecer a banda sonora dos seus livros e por isso inclui na narrativa várias referências a músicas e bandas (Beatles, Sigur Rós, etc.). Foi assim que ouvi pela primeira vez os Styx e a música "Come Sail Away". Não é especialmente do meu agrado, mas soube bem ler um livro cuja acção se desenrola na ilha de Manhattan, relembrar as ruas, os museus, a correria, o Soho, Tribeca, Little Italy e Chinatown embalada por esta introdução melancólica em piano, transportando-me novamente para o saudoso e querido mês de Agosto. Mas pronto, parece que o meu fascínio pelo Cunningham foi-se de vez. Gostei do livro, mas não me deixou extasiada como os 3 primeiros pois é como diz o ditado "Não há sol que sempre dure nem mal que nunca acabe." (adoro provérbios :P). Mais um livro sobre a beleza, o amor e a finitude de tudo isso. Com 30 anos gosto de continuar a acreditar que há coisas que duram para sempre :) Podem suspirar "Ahh, a ignorância é uma benção", que eu não me importo. Continuo a preferir o "Sangue do meu Sangue".

Muitas referências a grandes nomes da literatura como Emma Bovary do Gustave Flaubert (recorrente), Anna Karenina do Tolstoi (previsível), Gatsby de Fitzgerald (será que alguma vez vou ler?) e Roaskolnikov do Dostoievski (relembrou-me as minhas sucessivas tentativas falhadas em terminar o "Crime e Castigo").

"Interessamo-nos por eles por não serem admiráveis, por serem como nós, e por grandes escritores lhes terem perdoado isso." (pág. 153)
"(...)Claro que todos eles, cada um deles, transportam dentro de si uma jóia de si próprios, não apenas as feridas e as esperanças, mas uma qualidade interior, algo a que Beethoven poderia ter chamado alma, aquela incandescência que transportamos em nós, o simples facto de estarmos vivos, toda ela enredada no sonho e na memória, mas diferente do sonho e da memória, diferente do momento (atravessar uma rua, sair de uma padaria); aquela infinidade menor, o universo privado em que sempre nos deslocámos e que atravessaremos sempre de skate ou à procura de moedas no fundo de uma carteira ou indo para casa com os miúdos aos gritos. Que disse Shakespeare? As nossas vidas mesquinhas estão envoltas em sono." (pág. 293)

Também existem várias referências a Thomas Mann e à sua "Montanha Mágica" talvez para enfatizar uma obsessão pela decadência, a Flannery O'Connor e a Kafka.
Alguém, algures, num dia destes, disse-me que quando lê um artigo do meu blog fica sem vontade de ler muitos dos livros (bem sei que já me disseram o contrário) e apesar de não ser possível agradar a Gregos e Troianos, vou passar a transcrever as sinopses das contracapas, apesar de encontrar muitas vezes incoerências com o verdadeiro conteúdo da obra (este não foge à regra) onde o toque Zaracotriniano não chega:

Contracapa:
Peter e Rebecca Harris, na casa dos quarenta e a viver em Manhattan, aproximam-se do apogeu das suas carreiras em arte: ele, negociante; ela, editora numa boa revista da especialidade. Com um moderno e espaçoso apartamento, uma filha adulta a estudar na universidade de Boston e amigos inteligentes e animados, levam um invejável estilo de vida urbano contemporâneo e parecem ter todas as razões para serem felizes. Mas é então que o irmão de Rebecca surge em cena. Extremamente parecido com ela, mas muito mais novo, Ethan (conhecido na família como Mizzy, ("O Erro") resolve visitá-los. Na sua presença, Peter começa a pôr em causa os artistas, o trabalho destes, a sua carreira - todo o mundo que construíra com tanto cuidado.

Tal como o aclamado romance As Horas, vencedor do Prémio Pulitzer, esta nova obra de Cunningham constitui uma visão dolorosa do modo como vivemos hoje em dia. Plena de peripécias inesperadas, faz-nos pensar (e sentir) com profundida nas utilizações e no significado da beleza e no papel do amor nas nossas vidas.

"No seu romance mais concentrado - um enaltecimento agridoce da criatividade humana - Cunnigham, mestre da escrita vencedor de um Prémio Pulitzer, combina erotismo e estética para orquestrar uma admirável crise da alma. Inspirando-se em Henry James e Thomas Mann, assim como nos artistas Agnes Martin e Damien Hirst, produz uma história belíssima, espirituosa, filosófica e urbana sobre os mistérios da beleza e do desejo, da arte e da ilusão, do tempo e do amor." Donna Seaman, Booklist (leitura recomendada).

Happy New Year! e prometo que esta fase de interjeições não lusas vai passar.

"Bater num caldeirão para fazer dançar um urso, quando desejaríamos enternecer as estrelas."